Durante as últimas décadas, as hidrelétricas chegaram a ser responsáveis por impressionantes 90% da matriz elétrica do Brasil, com destaque para a grandiosa Itaipu, erguida nesse contexto. Contudo, esse protagonismo foi gradualmente cedendo espaço, e atualmente, a energia hidráulica representa 53% da capacidade instalada no país, estimando-se uma queda para 42% nos próximos sete anos, de acordo com projeções oficiais.

A principal razão desse declínio reside na redistribuição dos investimentos em diferentes fontes de energia, especialmente as eólicas e solares, que se tornam cada vez mais acessíveis economicamente. Este fenômeno resulta em momentos nos quais as hidrelétricas precisam, em determinadas circunstâncias, liberar água sem gerar energia, uma realidade evidenciada por recordes registrados no ano passado.

Novas fontes renováveis de energia

Em 1985, a matriz elétrica brasileira era dominada por quatro fontes, com apenas uma delas sendo renovável: a hidráulica. Hoje, contamos com pelo menos dez fontes, das quais seis são consideradas renováveis. Destacam-se, nesse cenário: eólica e solar, representando 11,5% e 11,8% da capacidade total no Brasil, com projeções de alcançar 11% e 18% em 2031, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

A mudança nas preferências de investimento tem uma lógica financeira evidente. As hidrelétricas, outrora líderes em investimentos em geração centralizada, perderam sua posição em 2017 para as eólicas. Em 2020, encontravam-se atrás não apenas das eólicas, mas também das solares, termelétricas e biomassa.

A despeito das emissões de CO2, as mudanças na matriz brasileira não têm um impacto significativo. Já no âmbito da operação,no entanto, especialistas alertam para a necessidade de flexibilidade no sistema nacional de energia elétrica, dado que o Brasil ainda enfrenta desafios relacionados à intermitência das energias eólica e solar. Neste sentido, embora as hidrelétricas tenham reduzido a sua capacidade, por sua flexibilidade e custos mais baixos, são essenciais para a segurança do sistema.

Avanço enfrenta limitações geográficas, ambientais e logísticos

Enquanto alguns países, como a China, investem na expansão hidrelétrica para armazenamento de energia, o Brasil busca diversificar seu parque. Embora o potencial para expansão ainda exista, enfrentamos limitações devido à disponibilidade limitada de locais economicamente viáveis, questões ambientais e desafios logísticos.

Em meio a esse cenário, o setor aposta na modernização das hidrelétricas existentes, conforme apontado por um estudo da EPE. Embora existam perspectivas positivas, o custo dessas operações permanece incerto. A estagnação global das hidrelétricas, com exceção da China, que lidera investimentos nesse setor em países emergentes, destaca a necessidade de reavaliar o papel das hidrelétricas na transição energética.

O setor reconhece a importância das hidrelétricas como peças-chave na transição energética, sendo fundamentais para a inserção bem-sucedida de fontes intermitentes como as eólicas e fotovoltaicas. A reflexão sobre o papel das hidrelétricas no futuro da matriz elétrica brasileira é crucial para garantir a sustentabilidade e eficiência na geração de energia do país.

Fonte: Folha de São Paulo

Continue acompanhando o blog e fique por dentro das novidades do mercado elétrico!

Leia também: Brasil atinge menor emissão de CO2 dos últimos onze anos na geração de energia elétrica