As chuvas acima da média no início do período úmido trouxeram alívio ao sistema elétrico brasileiro, especialmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, que encerraram o último mês com 43% da capacidade de seus reservatórios. Esse aumento de três pontos percentuais em relação ao mês anterior consolida a recuperação dos reservatórios do país.

Segundo Márcio Rea, diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), três dos quatro principais subsistemas energéticos devem finalizar o ano com níveis de armazenamento superiores a 40%: Sudeste/Centro-Oeste com 48,7%, Nordeste com 46,8% e Sul com 60,5%. Apenas o Norte, afetado por uma seca severa na Amazônia, deve ficar abaixo desse patamar, com 38,3% de sua capacidade.

Segurança no curto prazo, mas atenção ao médio e longo prazo

A melhora nos reservatórios reduz os temores relacionados à demanda de energia durante o horário de pico no início da noite, quando a geração solar deixa de operar e o sistema depende de hidrelétricas e térmicas. Segundo Christiano Vieira, diretor de Operação do ONS, "o sistema hoje tem recursos tanto para o atendimento energético quanto para o de ponta".

O ONS projeta que, se as chuvas de verão se mantiverem dentro da média histórica, os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste podem alcançar 88% da capacidade ao final do período chuvoso, em maio. No entanto, mesmo no pior cenário, com chuvas em 70% da média histórica, o nível projetado de 41% ainda será superior ao observado em 2021, ano da última grande crise hídrica no Brasil.

Foco em soluções estruturais e renováveis

Apesar da melhora no curto prazo, o ONS destaca a necessidade de ações para reforçar a segurança do atendimento ao consumo de ponta a médio e longo prazo. Com o crescimento acelerado da geração solar no Brasil, o operador recomenda ao governo a realização de leilões para contratar reservas de capacidade de energia e baterias que armazenam o excedente de geração solar no final da manhã.

Outro ponto crítico é a conclusão da usina nuclear Angra 3. Márcio Rea reforçou a importância do projeto, argumentando que sua localização estratégica no Sudeste e o custo inferior às térmicas garantiriam maior segurança e competitividade ao sistema. A conclusão de Angra 3, no entanto, depende de R$ 23 bilhões em investimentos, cujo destino segue em análise pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

Projeções positivas, mas desafios persistem

As perspectivas para o sistema elétrico em 2024 são otimistas, especialmente no curto prazo, com condições favoráveis para o atendimento da demanda durante o verão. Contudo, as projeções da ONS enfatizam a importância de planejar e investir em soluções sustentáveis e estruturais para mitigar os riscos e atender ao aumento esperado no consumo energético nos próximos anos.

Fonte: Folha