A retomada da construção da usina nuclear Angra 3, em Angra dos Reis (RJ), poderá gerar um custo adicional de até R$ 61,5 bilhões aos consumidores de energia elétrica ao longo de 40 anos, segundo estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O levantamento, que embasa a decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) sobre a continuidade do projeto, compara os custos da energia gerada por Angra 3 com outras fontes disponíveis no Brasil.

Impacto nos custos para consumidores

O estudo da EPE analisou diferentes cenários, considerando que Angra 3 teria um custo de R$ 653,31 por megawatt-hora (MWh), valor calculado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As simulações indicam que, em todos os cenários comparativos com fontes de energia disponíveis no país, os consumidores pagarão a mais por Angra 3, com valores que variam entre R$ 21,09 bilhões e R$ 61,55 bilhões ao longo de 40 anos (2031-2071). 

Em contrapartida, a comparação com usinas nucleares internacionais indicou que, em algumas condições, Angra 3 poderia ser mais barata devido ao estágio avançado das obras e à tecnologia utilizada. Ainda assim, a conclusão do projeto implicaria custos altos para os consumidores.

Histórico do Angra 3

Angra 3 é um projeto de longa data que enfrenta desafios desde sua concepção. A construção começou em 1981, mas foi interrompida em 1984 devido à crise econômica. O projeto foi retomado em 2009 no segundo governo Lula, com previsão de conclusão em 2016, mas novamente paralisado em 2015 devido a investigações de corrupção durante a Operação Lava Jato. Em 2022, a Eletronuclear, gerida pela ENBpar após a capitalização da Eletrobras, assumiu a responsabilidade pelo projeto.

Atualmente, cerca de 65% das obras foram concluídas. O custo estimado para finalização é de R$ 23 bilhões, incluindo financiamento, aquisição de equipamentos e serviços de engenharia especializados. O abandono do projeto custaria R$ 21 bilhões, considerando prejuízos em financiamentos, rescisão de contratos, devolução de incentivos fiscais e desmobilização.

Benefícios e desafios estratégicos

Embora os custos sejam altos, o estudo da EPE aponta benefícios indiretos com a conclusão de Angra 3, como:

  • Geração de energia firme (disponível 24/7);
  • Redução da emissão de gases de efeito estufa;
  • Geração de empregos qualificados;
  • Fortalecimento da indústria nuclear nacional;
  • Maior segurança e confiabilidade no sistema elétrico.

Por outro lado, especialistas questionam a viabilidade econômica do projeto, argumentando que há alternativas mais baratas e sustentáveis, como energia eólica e solar. Para o ex-diretor da Aneel, Jerson Kelman, “Angra 3 seria útil ao sistema elétrico, mas não é a alternativa de menor custo para os consumidores”.

Destino do projeto

O futuro de Angra 3 está nas mãos do CNPE, cuja próxima reunião deve definir o destino do projeto. O Ministério de Minas e Energia defende a continuidade da obra, argumentando que ela evitaria custos de abandono, moderaria custos sistêmicos e garantiria segurança energética. No entanto, especialistas como Paulo Pedrosa, da Abrace, sugerem que, se o governo deseja fomentar o setor nuclear, o financiamento deveria vir do Tesouro e não ser repassado aos consumidores.

Com decisões estratégicas e econômicas em jogo, o destino de Angra 3 será um marco para o setor energético brasileiro e para o debate sobre o custo-benefício de fontes nucleares no Brasil.

Fonte: Estadão