Dentro desse contexto, os sistemas de armazenamento de energia — especialmente por meio de baterias estacionárias de grande porte — vêm ganhando espaço como uma ferramenta estratégica para a gestão da energia elétrica.

Embora historicamente associados a aplicações restritas, como backup para data centers e hospitais, os sistemas de armazenamento estão assumindo uma nova função no contexto da transição energética, tanto na operação da rede elétrica quanto no auxílio à integração de fontes renováveis.

O Que São Baterias Estacionárias?

As baterias estacionárias são sistemas capazes de armazenar grandes volumes de energia elétrica para posterior utilização. Diferente de geradores convencionais, o armazenamento não gera energia, mas permite modular o uso da eletricidade no tempo, oferecendo flexibilidade tanto para consumidores quanto para agentes do setor elétrico.

Esses sistemas são compostos por unidades de armazenamento (em sua maioria baterias de íon-lítio, mas também outras tecnologias como fluxo redox ou sódio-enxofre), integradas a sistemas de gestão e controle inteligentes, que definem quando carregar e descarregar de acordo com critérios técnicos, operacionais ou econômicos.

Aplicações no Setor Elétrico

O armazenamento de energia vem se consolidando como uma tecnologia-chave, com aplicações relevantes em diferentes segmentos da cadeia elétrica:

1. Geração Centralizada e Integração de Renováveis

Usinas solares e eólicas possuem geração variável e intermitente, o que impõe desafios operacionais à rede. As baterias permitem:

  • Armazenar excedentes instantâneos de geração renovável, que muitas vezes não encontram demanda no momento da produção.
  • Fornecer serviços ancilares, como controle de frequência, suporte à tensão e estabilidade da rede.
  • Reduzir a necessidade de despacho de térmicas emergenciais, especialmente em horários de pico ou em dias de baixa geração renovável.

Exemplos práticos já estão em operação no Brasil. Um dos mais conhecidos é o projeto piloto da EDP em São Paulo, que instalou um sistema de armazenamento em uma subestação para avaliar os benefícios no alívio de picos de demanda e no suporte à rede. Outro caso relevante é o da AES Brasil, que implementou um sistema de baterias associado a uma usina solar, com foco em estabilidade e otimização da operação.

2. Apoio à Distribuição e à Operação do Sistema

Operadoras de distribuição e ONS começam a incorporar projetos de armazenamento como alternativas para:

  • Aliviar congestionamentos em linhas de transmissão e distribuição.
  • Suportar a operação em regiões com crescimento de carga onde o reforço estrutural seria mais oneroso.

Viabilizar uma maior penetração de geração distribuída, como fotovoltaica em áreas urbanas e rurais.

Aplicações na Gestão Corporativa: Uma Visão Técnica

Do ponto de vista técnico, os sistemas de armazenamento podem ser utilizados por consumidores, especialmente grandes indústrias e centros de missão crítica, para:

  • Redução de demanda no horário de ponta (Peak Shaving): carregamento em horários de baixa tarifa e descarga nos períodos de ponta, reduzindo custos com demanda contratada.
  • Backup de alta disponibilidade, atuando de forma instantânea em quedas da rede elétrica, com tempos de resposta muito superiores aos de geradores a diesel.
  • Maximização do uso de geração própria renovável, armazenando excedentes e deslocando consumo.

Apesar de tecnicamente viáveis, essas aplicações ainda dependem de análise criteriosa de viabilidade econômica, que varia de acordo com o perfil de consumo, os custos regulatórios e o avanço da legislação sobre serviços ancilares no Brasil.

Considerações Finais

O avanço do armazenamento com baterias estacionárias representa mais um passo na transformação do setor elétrico. É uma tecnologia que, embora em crescimento, não substitui modelos tradicionais de suprimento, mas sim complementa a matriz elétrica, aumentando sua flexibilidade, resiliência e eficiência.

O Brasil, com sua matriz predominantemente renovável, tem um enorme potencial para integrar essas soluções, tanto na geração centralizada quanto na operação do sistema.

Trata-se de uma tecnologia que merece ser acompanhada de perto por todos os agentes do setor — geradores, distribuidores, consumidores e reguladores — especialmente diante dos movimentos de modernização do marco legal do setor elétrico.

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